Eko-Kya: A teia da Vida

A teia da vida

Bem-vindos ao Blog EKO-KYA. Neste primeiro post damos a conhecer o projeto e o que podem esperar deste blog.

Eko-kya connections

EKO-KYA nasce da esperança de uma reconexão das pessoas com a vida através da observação e experimentação consciente da Natureza. Num mundo em que somos “bombardeados” por informação diariamente é fácil distrairmo-nos, ficarmos absorvidos pelos nossos problemas e obsessões, deixarmos de viver e passarmos a sobreviver. Este estado leva-nos a quebrar aquilo que temos de mais precioso – as relações. Um estudo de Harvard1 iniciado há mais de 80 anos mostra-nos que a qualidade das nossas relações afeta diretamente a nossa saúde e o nosso estado de plenitude. 

Também somos parte da Natureza, que, em diferentes escalas, depende de interações para se manter saudável e em equilíbrio dinâmico. E somos milhões de milhões de seres a viver neste planeta. A palavra biodiversidade significa as várias  dimensões desses seres vivos e das relações entre eles. 

Como em todas as relações, começamos por conhecer com quem ou com o quê nos relacionamos e, a partir daí, que tipo de relações desenvolvemos em função de necessidades, hábitos e costumes. 

Existem 7.117 línguas diferentes no mundo2, 7.117 maneiras diferentes de pensar e descrever o mundo, quem e como o habita. E há também conhecimento que se desenvolve quando pessoas de diferentes línguas partilham experiências e saberes, mesmo sendo contra-corrente quanto às crenças e pensamentos predominantes. É o caso do conhecimento sobre como funciona a natureza, um conhecimento que tem crescido nos últimos 340 anos nas culturas ocidentais, a partir da constatação dos limites dos recursos naturais e dos processos ecológicos, feitos por um inglês3, um francês4, dois americanos5 e um alemão6, em face à progressiva destruição das florestas pelo desenvolvimento tecnológico. 

Noutros grupos humanos, o conhecimento estruturou-se com base no contacto com as plantas, fungos e animais, e pela observação das suas características e dos seus hábitos. São as culturas dos povos dos desertos, das florestas, dos manguezais, dos litorais e tantos outros ambientes naturais ainda preservados, que vivem de maneira integrada com os lugares onde habitam, de forma a obter os recursos necessários e proporcioná-los às gerações seguintes. Esses povos têm sido os melhores gestores dos seus habitats e é em grande parte graças a eles, que a diversidade biológica se mantém rica. Temos muito a aprender deles e com eles.

Nos últimos séculos as populações humanas têm aumentado a tendência a concentrar-se em cidades (55% do total das pessoas, atualmente)7, o que tem limitado, geração a geração, os nossos contactos com outros seres vivos e com os processos naturais que ocorrem ao longo do tempo. As crianças chegam a conhecer mais marcas comerciais que nomes de plantas e animais numa proporção superior a 100 logos para 1 espécie8. Esta progressiva perda de contacto, sobretudo na infância, foi identificada em 1978 como a “extinção da experiência” no mundo natural9. Que futuro gera essa desconexão? É possível potencializar o contacto e o mundo natural nas cidades? Algumas como Paris e Londres, estão a desenvolver iniciativas nesse sentido.

EKO-KYA propõe-se ser um eixo de encontros, centrado na “teia da vida”, para contribuir a descobrir ou redescobrir a biodiversidade a partir do dia a dia, a reconexão com a vida e a lembrança de que fazemos todos parte de algo maior.

Em eko-kya.net, disponibilizamos recursos e propomos novas formas de conexão com a Natureza, de forma simples e criativa. Conectamos a biodiversidade com o dia a dia através de materiais ilustrados e atividades para os mais jovens, desenvolvemos projetos específicos com organizações e escolas para uma integração modular de relações e conceitos-chave, com caráter ecológico e geográfico.

Neste blog iremos contar histórias, partilhar artigos científicos e notícias que mostram como a biodiversidade é imprescindível para a vida neste planeta.

Semeamos experiências para desenvolver a consciência, colhermos a conexão e partilharmos o conhecimento para uma vida biodiversa.

Equipa Eko-Kya
Equipa EKO-KYA

  1. https://news.harvard.edu/gazette/
  2. https://www.ethnologue.com/
  3. Em 1664, o paisagista e escritor inglês John Evelyn identificou a importância de um dos recursos naturais mais importantes na época, a partir da sua escassez. “Estaríamos melhor sem ouro do que sem madeira”, escreveu, porque sem árvores não haveria fabricação de ferro nem cristais, nem fogos que aquecessem as casas durante as frias noites de inverno, nem uma armada que protegesse as costas de Inglaterra.
  4.  Em 1669, Jean Baptiste Colbert, ministro de finanças francês, disse, ao apresentar medidas drásticas que limitavam o uso dos bosques próximos às povoações: “França morrerá por falta de madeira”.
  5.  Em 1749, o agricultor e recolector de plantas John Bartram partilhava com o seu amigo Benjamin Franklin o seu temor: “a madeira estará em breve quase totalmente destruída”.
  6.  Em 1800, Humboldt foi o primeiro a explicar as funções fundamentais do bosque no ecossistema e no clima: a capacidade das árvores de armazenar água e enriquecer a atmosfera com a sua humidade, a proteção que davam ao solo e o seu efeito de arrefecimento. A fonte das referências 3 a 6 é: Wulf, A. (2016). La invención de la naturaleza: el nuevo mundo de Alexander von Humboldt. Barcelona: Taurus.
  7. Segundo a ONU em 19.02.2019, “55% da população mundial vive em áreas urbanas e a expectativa é de que esta proporção aumente para 70% até 2050”.  https://news.un.org
  8. Balmford A., Clegg L., Coulson T., Taylor J. (2002). Why conservationists should heed Pokémon. Science 295: 2367.
    (PDF) Why Conservationists Should Heed Pokémon
  9.  Pyle, R.M. (1978). The extinction of experience. Horticulture, 56(1), 64-67.
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