Biodiversidade

Conceitos-Chave & Referências

Os conceitos estão definidos de forma sintética e alguns estão agrupados em blocos temáticos. As informações provêm de trabalhos científicos que estão referidos no texto e citados na lista de referências.

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BIODIVERSIDADE – DIVERSIDADE BIOLÓGICA

"A variabilidade entre os organismos vivos de todas as origens, incluindo, inter alia, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte; compreende a diversidade dentro de cada espécie, entre as espécies e dos ecossistemas".

Esta é a definição estabelecida na Convenção sobre Diversidade Biológica de 199218. É, portanto, a diversidade de vida em todas as suas dimensões.

BIOSFERA

É o conjunto de todas as partes do planeta Terra onde existe ou pode existir vida, e que abrange regiões da litosfera, da hidrosfera e da atmosfera; engloba todos os ecossistemas da Terra.

Atmosfera

É a camada gasosa que envolve a Terra, constituída basicamente por azoto e oxigénio, e dividida em várias zonas com base na temperatura.

Hidrosfera

É a parte da superfície terrestre composta de vastas massas de água que incluem os oceanos, mares, rios, lagos, águas subterrâneas, neve e gelo e outras águas.

Litosfera

É a parte externa e rígida da Terra, que inclui a crusta terrestre (camada externa, consolidada, da Terra, com cerca de 35 km de espessura sob os continentes e de 10 km de espessura sob os oceanos) e uma parte do manto superior.

BIÓTOPO

É qualquer espaço que proporciona condições para a vida.

COMUNIDADE ou BIOCENOSE

É um sistema formado por populações de plantas, animais, bactérias, fungos e outros organismos vivos, que povoam um dado biótopo numa época determinada.

Tem uma organização definida por redes de interdependência, onde há produtores (as plantas), uma rede de sucessivos consumidores e decompositores.

DISPERSÃO DE SEMENTES

É o processo de transporte pelo qual as espécies de plantas colonizam novos espaços e aumentam a sua quantidade. As sementes têm diferentes formatos, para poderem ser transportadas por agentes diversos. Quando transportadas por animais, em geral encontram-se protegidas pelos frutos que eles ingerem (ex.: azeitonas, amoras, etc.), mas também podem ser escondidas e armazenadas, tendo nestes casos, cascas duras (ex.: avelãs e amêndoas).

Podemos classificar a dispersão de sementes, em relação aos diversos dispersores como:

Anemocoria

Dispersão pelo vento. Sementes pequenas e leves, normalmente apresentando estruturas que facilitam a deslocação pelo ar;

Autocoria

Dispersão pela própria planta. As sementes são libertadas perto da planta-mãe, no solo, ou projetadas a certa distância através de algum mecanismo da própria planta (Por exemplo através de cápsulas que se abrem subitamente e impulsionam as sementes);

Hidrocoria

Dispersão pela água. As sementes têm durabilidade no meio aquático e capacidade de flutuação. Ocorre em plantas em locais alagados, ou próximos de água doce ou salgada;

Zoocoria

Dispersão por animais. A maioria das estratégias de dispersão de sementes, envolve a participação de animais como transportadores. Pode ser subdividida em:

Antropocoria
Antropocoria: humanos

Dispersão de sementes pelos seres humanos (agricultura, dispersão ocasional)

Artiodactilocoria
Artiodactilocoria: veados

Dispersão por animais com casco (ungulados), como cervos, cabras, javalis, cavalos, gado, etc.; ocorre pelo processo de transporte, quando os rebanhos se deslocam para outros lugares;

Ictiocoria
Ornitocoria

Dispersão por peixes, ocorrendo em geral nas florestas inundáveis;

Mamaliocoria
Mamaliocoria:raposa Mamaliocoria:esquilo Mamaliocoria: morcegos Mamaliocoria: macaco

Dispersão por mamíferos como ungulados, morcegos, macacos, raposas, martas, etc.

Mirmecoria ou mirmecocoria
Mirmecoria: formiga

Dispersão por formigas; neste caso, as sementes contêm geralmente uma estrutura com alimento extra para as formigas e são levadas para dentro dos formigueiros, onde podem germinar em melhores condições.

Ornitocoria
Ornitocoria

Dispersão por aves, sendo o principal tipo de zoocoria;

Primatocoria
Mamaliocoria: macaco

É um caso específico de mamaliocoria, onde a dispersão é feita por primatas (várias espécies de macacos da América do Sul, África e Ásia).

Quiropterocoria
Mamaliocoria: morcegos

Dispersão por morcegos frugívoros (que comem frutas), importante para plantas tropicais e subtropicais, já que esses morcegos transportam frutos e sementes a longas distâncias da planta-mãe;

Saurocoria
Saurocoria: lagarto

Dispersão por lagartos (ocorre principalmente em ilhas).

DIVERSIDADE GENÉTICA

É uma medida de biodiversidade que mede a variação genética dentro de cada espécie, tanto entre populações geograficamente separadas como entre os indivíduos de uma dada população19 .

ECOSFERA

É o conjunto de todos os ecossistemas da Terra.

EXTREMÓFILOS

São os organismos que necessitam fisicamente de condições ambientais extremas (temperatura, acidez, salinidade, pressão ou radiação), prejudiciais à maioria das outras formas de vida na Terra.

A maioria dos extremófilos são unicelulares (bactérias e arqueobactérias); mas existem também espécies de insetos como os psicrófilos Grylloblattodea, o Krill antártico, que é um crustáceo, e os tardígrados, entre outros 20. A capacidade de adaptação destes organismos deve-se a poderem produzir moléculas que os protegem das condições adversas às outras formas de vida.

FATORES BENÉFICOS E PREJUDICIAIS PARA A BIODIVERSIDADE

São os principais fatores que interferem na existência da biodiversidade e dos serviços ecossistémicos que proporcionam os habitats naturais.

Os fatores benéficos para a biodiversidade são o conhecimento sobre as espécies e as suas relações de interdependência, as ações de conservação para as preservar e o uso sustentável dos recursos naturais.

Os fatores prejudiciais à biodiversidade são a perda dos habitats naturais, a introdução de espécies exóticas invasoras e o uso incorreto de produtos tóxicos.

Estão definidos abaixo, agrupados em função dos seus efeitos benéficos ou prejudiciais:

Conhecimento

Conhecer as espécies e as suas características, bem como o que é necessário à sua sobrevivência; é a base que contribui tanto para o seu uso adequado como para garantir a manutenção da sua existência.

Conservação

É o ato de conservar e manter os indivíduos e as populações de cada espécie, assim como o conjunto de fenómenos que assegura a continuidade da vida (características, inter-relações, fatores ecológicos, etc.), através das gerações. 21

Uso sustentável

Corresponde a formas de utilização e gestão dos recursos naturais, e das espécies, que garantam a sua existência e continuidade ao longo do tempo. Implica ter conhecimento e cuidados adequados e manter uma relação de harmonia entre as espécies, ecossistemas e pessoas, garantindo assim qualidade de vida a todos.

O conceito de sustentabilidade ambiental implica considerar os processos a longo prazo. Trata-se de uma forma de desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer a existência de recursos vitais nem a capacidade das próximas gerações de suprir as suas próprias necessidades.

Perda de habitat

É a principal causa da perda de biodiversidade, pela eliminação ou transformação dos espaços naturais, onde a maioria das espécies são eliminadas por desflorestação, incêndios, cultivos extensivos, construção de estruturas antrópicas (feitas pelo homem).

Espécies invasoras

São espécies originárias de outros ambientes, que se propagam e passam a competir pelos recursos das espécies nativas; no caso das plantas, ocupam espaços disponíveis onde as espécies nativas poderiam crescer, atraem polinizadores e dispersores de sementes (pelo que podem diminuir, ou até reduzir drásticamente, a polinização das flores ou a dispersão das sementes das plantas nativas).

Produtos tóxicos

São produtos com elementos químicos prejudiciais ao desenvolvimento de seres vivos, ou que chegam a produzir a sua morte. Entre eles existem os chamados agrotóxicos, utilizados para evitar a presença de espécies indesejáveis, sobretudo nas plantações.

Podem ser inseticidas, herbicidas e fungicidas, dependendo do grupo de espécies animais, vegetais ou de fungos que eliminam. O seu uso inadequado ou excessivo provoca contaminação ambiental (água, solos, etc.), além da morte indiscriminada de espécies e organismos, muitos dos quais benéficos às próprias plantações. O excesso de fertilizantes também pode ser tóxico em determinadas situações, assim como a presença de certos produtos derivados da mineração (lamas tóxicas que contém crómio, mercúrio, etc.).

HABITAT

É um local onde normalmente vivem plantas ou animais, caracterizado principalmente pelas suas características físicas (topografia, fisionomia de plantas ou animais, características do solo, clima, qualidade da água, etc.) e secundariamente pelas espécies de plantas e animais que vivem lá 22.

Por exemplo, nos habitats aquáticos de água doce (rios e lagos) vivem peixes, como o barbo.

MACROFAUNA

É a fauna macroscópica ou visível a olho nu. No âmbito da ciência do solo, são os animais que têm um centímetro ou mais de comprimento, mas são menores que uma minhoca.

Os miriápodes, centopeias, milípedes, lesmas, vermes oligoquetas (minhocas), caracóis, larvas de de moscas e de besouros, besouros, e aranhas são membros típicos da macrofauna. Muitos desses animais cavam covas e pequenos túneis, o que auxilia na drenagem e aeração do solo; além disso, algum material orgânico passa para o solo através das tocas e dos túneis. A maioria da macrofauna consome matéria vegetal em decomposição e detritos orgânicos, mas as centopeias, alguns insetos e aranhas atacam outros animais do solo 23.

MESOFAUNA

É a fauna com tamanho inferior a 2 milímetros, visível com lupas de aumento. No âmbito da ciência do solo, são animais de tamanho entre alguns milímetros e 40 mícrons de comprimento (cerca de três vezes a espessura de um cabelo humano).

Os ácaros e os colêmbolos são membros típicos da mesofauna. Esses animais podem alimentar-se de microrganismos, outros animais do solo, plantas em decomposição ou material animal, plantas vivas ou fungos. A maior parte da mesofauna alimenta-se de material vegetal em decomposição; ao remover as raízes, eles abrem canais de drenagem e aeração no solo. Os canais contêm material fecal da própria mesofauna, que pode ser decomposto por organismos menores 23.

MICORRIZOS

São espécies de fungos que vivem em simbiose com as raízes da maioria das plantas, facilitando-lhes a absorção de nutrientes minerais.

Algumas espécies de árvores só crescem quando eles estão presentes no solo.

MICROFAUNA

São os animais mais pequenos, geralmente microscópicos, especialmente aqueles que habitam o solo, um órgão ou outro habitat localizado.

Os protozoários (organismos unicelulares) e os tardígrados são os componentes mais comuns da microfauna. Muitos habitam filmes de água ou espaços de poros na serapilheira e no solo, alimentando-se de microrganismos menores que decompõem a matéria orgânica 23.

MICRORGANISMOS

Seres vivos de dimensões microscópicas (bactérias e cianobactérias, algumas algas e protozoários, alguns fungos, animais e plantas minúsculos).

POLINIZAÇÃO

Processo de transporte do grão de pólen da antera (parte masculina) de uma flor para o estigma (parte feminina) da mesma ou de outra flor da mesma espécie.

Este transporte depende de determinadas características das flores e pode ser feito por fatores ambientais (vento, água), ou por animais polinizadores (insetos como vespas, abelhas, borboletas, moscas, besouros, formigas e outros; aves; pequenos mamíferos como morcegos, ratos, marsupiais e até mesmo por pequenos lagartos).

As plantas atraem os animais polinizadores com substâncias alimentícias (como o néctar - rico em açúcares, o pólen - rico em proteínas, alguns óleos ou substâncias aromáticas).

87,5% das plantas que produzem flores são beneficiadas, em algum momento, com polinização realizada pelos animaisxx, obtendo-se frutos maiores e de melhor qualidade.

PROCESSOS DE FORMAÇÃO DO SOLO

Correspondem a uma sequência de processos de decomposição e reciclagem de nutrientes, realizada por milhares de espécies de animais, fungos, protozoários e microrganismos que vivem no solo.

Inicia-se pela desagregação da matéria orgânica e finaliza-se na mineralização. Os minerais, uma vez disponíveis, poderão ser absorvidos pelas raízes das plantas com a ajuda de micorrizos (espécies de fungos que convivem com as raízes).

Desagregação da matéria orgânica:

É o processo de fragmentação (quebra) sucessiva dos detritos das plantas realizado sobretudo pela macrofauna e mesofauna do solo (combinações de centenas de indivíduos de dezenas de espécies). Além de fragmentar a matéria orgânica em partes cada vez mais pequenas, escavam túneis e ao deslocar-se, transportam-na a zonas mais profundas do solo.

Mineralização:

É o processo de liberação ou transformação dos constituintes da matéria orgânica que aí se encontram, da forma orgânica (ligada ao carbono), para a inorgânica (minerais); é realizado pela microfauna e pelos microrganismos, em combinações de dezenas de milhares de indivíduos de centenas de espécies.

Absorção de nutrientes nas plantas:

Absorção de nutrientes nas plantas: é o processo de absorção de nutrientes minerais liberados pelos microrganismos, através das raízes das plantas; é realizado em combinações de centenas a dezenas de milhares de espécies microscópicas. Este processo é facilitado por alguns fungos (micorrizos) que vivem entre as raízes.

RELAÇÕES DE MUTUALISMO ou PROCESSOS DE MUTUALISMO

São relações de benefício mútuo entre organismos de espécies diferentes. Nos ambientes terrestres, correspondem aos processos de polinização, dispersão de sementes, decomposição, reciclagem e absorção de nutrientes.

Estes processos podem implicar uma rede de relações e interdependência entre plantas, animais, fungos e microrganismos. A polinização e a dispersão de sementes das plantas são exemplos desses processos.

RELAÇÕES ENTRE AS ESPÉCIES

As principais tipologias, seguindo um gradiente de maior a menor cooperação entre elas, são:

Simbiose:

É a relação de íntima dependência entre duas espécies diferentes. Por exemplo, os líquenes (espécies formadas pela união de uma alga com um fungo), as raízes das plantas com os micorrizos e os animais, incluídos os seres humanos, com a sua flora intestinal.

Mutualismo:

É a relação em que duas espécies se beneficiam mutuamente. É o caso das plantas com flores que proporcionam alimento (pólen e néctar aos polinizadores e frutos aos animais frugívoros - comedores de frutas), obtendo assim meios de transporte, tanto para o pólen no processo de polinização das flores, como para a dispersão das suas sementes.

Comensalismo:

É a relação em que uma espécie beneficia e a outra não é prejudicada. Um exemplo de comensalismo é o dos tubarões e das rémoras, peixes que aderem ao corpo dos tubarões e se alimentam dos restos das presas destes.

Competição:

É a relação em que duas ou mais espécies necessitam do mesmo recurso ambiental. É o caso de aves e outros animais que defendem territórios onde encontram alimento, ou de plantas trepadoras que procuram luz, etc.

Parasitismo:

É a relação em que um organismo se beneficia em detrimento de outro. Por exemplo, as carraças do gado, as lombrigas e vermes parasitas do ser humano.

Predação:

É a relação em que uma espécie se alimenta de outra. Ambas tendem a desenvolver estratégias de forma a manter o equilíbrio nas respetivas populações. Podem ser cervos e lobos, coelhos e raposas, etc.

SERVIÇOS ECOSSISTÉMICOS

São os recursos, funções e processos naturais dos quais as pessoas beneficiam para viver. Eles apoiam, direta ou indiretamente, a nossa sobrevivência e qualidade de vida.

É um conceito que pretende reconhecer e atribuir um valor económico ao que os ecossistemas proporcionam aos seres humanos. Tem estado a ser definido à escala global por especialistas, uma vez que se trata de encontrar um quadro de referência comum para conseguir um uso sustentável dos sistemas vitais.

De acordo com a TEEB (The Economics of Ecosystems and Biodiversity), os serviços ecossistémicos podem ser categorizados em quatro tipos principais:

Serviços de abastecimento:

Referem-se aos produtos obtidos a partir dos ecossistemas, como alimentos, água doce, madeira, fibras, recursos genéticos e medicamentos.

Serviços reguladores:

São os benefícios obtidos com a regulação de processos ecossistémicos, como a regulação climática, a regulação de riscos naturais, a purificação da água e a gestão de resíduos, a polinização e o controle de pragas.

Serviços de habitat:

Referem a importância dos ecossistemas para fornecer habitat para as espécies migratórias e para manter a viabilidade de grupos de genes entre populações.

Serviços culturais:

Incluem benefícios não materiais que as pessoas obtêm dos ecossistemas, como enriquecimento espiritual, desenvolvimento intelectual, recreação e valores estéticos.