Biodiversidade

Relações de mutualismo e dinâmicas vitais em ecossistemas terrestres

Existem relações entre os animais e as plantas que nem sempre são fáceis de perceber. Às vezes é preciso muitas horas de observação e experiências para ter a certeza do que são. É o caso das relações de mutualismo (em que há benefício mútuo).

Até que ponto a nossa vida pode estar ligada a relações desse tipo?

A síntese ilustrada sobre os ambientes terrestres que acompanha o mapa, exemplifica algumas relações de mutualismo das quais dependemos.

Alguma vez observaram os fatores que contribuem para que tenhamos frutas e verduras (além do trabalho dos agricultores)?

Para conhecê-los, pode ser útil visualizar os processos relacionados com os nossos alimentos de origem vegetal: a polinização, a dispersão de sementes e as etapas da reciclagem de nutrientes feita pelos organismos do solo.

Esses processos são parte das dinâmicas vitais em ecossistemas terrestres. Eles devem ter em consideração os tempos de vida dos animais, das plantas e do solo, assim como os serviços proporcionados por esses mesmos ecossistemas e os fatores que podem afetá-los, positiva ou negativamente.

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Polinização e dispersão de sementes

Polinizaçao
Sequência de esquemas da polinização pela abelha jataí
Atualmente, cerca de 90% de todas as espécies de plantas com flores dependem de fauna polinizadora11

A evolução das plantas com flores e dos seus polinizadores é um longo processo que se iniciou há cerca de 225 milhões de anos12. Existem espécies tão interdependentes que, se faltar uma, a outra não sobrevive. Isso também pode acontecer quando a planta é levada para um ambiente no qual não existe o seu polinizador específico13.

Quando olhamos para as flores, habitualmente admiramos a sua beleza, cor e forma. Mas, se observarmos também as suas estruturas, em particular os estames e o gineceu (as suas partes reprodutivas, masculinas e femininas respectivamente), podemos comprovar que estas têm características específicas em cada espécie vegetal14. Essas características estão relacionadas com o tipo de polinização e, sobretudo, com os agentes polinizadores.

Agentes polinizadores e dispersores no dinâmica vitais terrestres
As características dos frutos e das sementes, em geral, também estão relacionadas com os agentes dispersores de sementes e o seu comportamento.

Observar as diferentes formas de alimentação e de polinização dos polinizadores é uma experiência motivadora e leva sempre a descobrir novos aspectos interessantes.

Nem todos os animais que visitam as flores de uma espécie as polinizam: para isso acontecer, o pólen deve ser transportado da parte masculina de uma flor até à parte feminina de outra flor, seja da mesma planta ou de outra planta da mesma espécie. Da mesma forma, nem todos os animais que comem frutos dispersam sementes.

Convém observar bem cada situação para poder identificar o que está a acontecer, porque pode tratar-se simplesmente de alimentação.

Os animais dispersores de sementes são também muito importantes para as plantas.

Ao proporcionar frutos alimentícios aos animais, as plantas têm a possibilidade de conseguir que as suas sementes sejam transportadas para lugares adequados para germinarem e depois crescerem, às vezes a vários quilómetros de distância umas das outras.

Há aves, por exemplo, que se deslocam a grandes distâncias levando sementes no seu interior.

O tamanho das sementes está relacionado com as características e quantidade de espécies de animais dispersores.

disseminaçao de sementes
subdirectory_arrow_left Dispersão de sementes pequenas (ingestão do fruto e posterior dispersão quando excretadas as sementes). subdirectory_arrow_rightDispersão de sementes grandes (coleta da semente que passa a ser escondida para ser recuperada em época de escassez)

O processo de dispersão das sementes pequenas é feito através da ingestão de frutos e posterior dispersão das sementes, quando excretadas. As plantas que têm sementes pequenas, têm mais espécies dispersoras do que as sementes grandes.

A dispersão de sementes grandes é geralmente feita por alguns animais que as coletam e escondem, durante a época de frutificação, para as recuperar depois, nas épocas de escassez de alimento. Muitas dessas sementes não são recuperadas, podendo germinar e crescer.

Os comportamentos dos animais polinizadores e dispersores de sementes, no seu conjunto, constituem alguns dos chamados “serviços ecossistémicos”, fundamentais para a manutenção da biodiversidade.

Decomposição e reciclagem de nutrientes

Processos no solo
Processos que ocorrem no solo

A maioria das plantas precisa de solo, água, ar e energia solar. Podem crescer adequadamente graças à fauna e aos fungos que vivem no solo, à água e ao ar que circulam pelos pequenos túneis feitos por formigas, minhocas, centopeias e outros animais. As raízes também respiram.

Os processos que ocorrem no solo, de forma sequencial, são complexos e dependem de milhares de espécies.

Começam com a desagregação da matéria orgânica, feita pela macrofauna (formigas, minhocas, bichos da conta, etc.) e a mesofauna (colêmbolos, ácaros, etc.), que fragmentam os detritos das plantas. Continuam através da mineralização, realizada pela microfauna (protozoários e nematódeos) e microrganismos (bactérias e fungos). Estes libertam ou transformam os constituintes da matéria orgânica em matéria inorgânica, ou seja, em nutrientes minerais. Finalizam na absorção desses nutrientes pelas raízes das plantas, facilitada por algumas espécies de fungos que vivem entre as suas raízes (micorrizos), numa associação simbiótica benéfica para as plantas e os fungos, que assim se desenvolvem melhor.

Calcula-se que 25% do total das espécies que existem na Terra, vivem no solo15

e que cerca de 99% dos nossos alimentos provêm de ambientes terrestres16

Os serviços ecossistémicos têm enorme valor económico, porque o que os animais fazem gratuitamente, ao alimentar-se, seria caríssimo, se feito por nós. Um cálculo da FAO estima um valor de 189 mil milhões de dólares para o serviço de polinização 17.

Veja mais sobre a polinização, a dispersão de sementes e os processos de decomposição e reciclagem de nutrientes nos conceitos-chave.

Referências

11 Plant Production and Protection Division: Pollination

12 Thapa, R.B. (2006). Honeybees and other insects pollinators of cultivated plants: a review. J. Inst. Agric. Anim. Sci., 27:1-23. Em Introduction materials and methods

13 Quando a planta tem um valor económico elevado (como as cerejeiras ou a baunilha) e é cultivada fora dos seus biomas de origem, deixa de ter os seus polinizadores naturais e a sua polinização passa a ter de ser feita manualmente por pessoas, flor a flor.

14 As características diferenciadas das flores correspondem a um dos principais critérios da classificação científica das plantas.

15 Jeffery, C. et al. [Eds]. (2010). European atlas of soil biodiversity. UE. 128 p. European atlas of soil biodiversity - Publications Office of the EU

16 Soil Conservation and Agriculture | FAO SOILS PORTAL

17 Plant Production and Protection Division: Midiendo los Déficits de Polinización