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Os resgatadores de plantas

Chamo-me Monstera deliciosa, também conhecida como costela de Adão e sou uma planta resgatada.

Para quem acha que as plantas estão sempre no mesmo lugar, garanto que não é bem assim. Já nem me lembro de em quantos vasos e lugares habitei, antes de chegar a esta casa onde vivem dois artistas, um adolescente, dois gatos e uma cadelinha, a Leica.

Como cheguei aqui, depois de meses numa loja fechada pelos confinamentos sanitários? A Silvia, que é fotógrafa, via-me quando passava pela montra, a caminho do trabalho. Semana após semana, eu ia definhando, entre Potus, heras e gerânios, até que o confinamento acabou, a loja reabriu e ela levou-me por poucos euros.

Como o meu vaso tinha uma etiqueta que dizia: “Origem: México” e a fotógrafa gosta muito da Frida Khalo, agora chama-me Frida.

Pintura a óleo de Frida Kahlo (detalhe)
© Banco de México Diego Rivera Frida Kahlo Museums Trust, Mexico

Sinto-me bem nesta casa, juntamente com outras plantas que vieram de diferentes lugares, quase todas trazidas em muito mau estado, por terem sido deixadas na rua ou perto de contentores de lixo: uma Aloe quase sem folhas e cheia de cicatrizes, uma palmeira, uma Yucca e muitas outras. Sim, elas contaram-me as suas estórias, porque nós, as plantas comunicamos umas com as outras de muitas maneiras, até através de aromas. Como estamos em vasos, estamos mais limitadas, mas partilhamos a mesma curiosidade: o que levou os artistas a cuidar de plantas que a maioria das pessoas nem vê ou dá por mortas? 

imagens © memoriadepez.photo

Uma tarde ouvi uma conversa entre os dois e uma prima, onde contavam desde quando e porquê resgatam plantas.

Para a Silvia, isto é algo que faz desde pequena por tradição familiar: a mãe e a avó adoram flores e sempre recolheram plantas na rua para cuidar delas em casa. Ela também leva para casa todas as plantas abandonadas que encontra, mesmo que estejam em muito mau estado. Aprecia-as como seres vivos, gosta de lhes dar uma outra oportunidade e mantém a esperança de conseguir recuperá-las, o que às vezes acontece e outras não. Informa-se sobre elas, cuida-as e põe-lhes nomes. Fica encantada cada vez que aparece uma folha nova ou um rebento!

Na casa dos pais do Gerard também havia plantas, mas não tinham por costume recolher as abandonadas. A primeira que ele adotou foi quando era criança: uma suculenta que havia na sua escola, conhecida como planta jade ou da felicidade (Crassula ovata). Lembra-se de que viu uma parte da planta partida e levou-a para casa. Plantou-a num vaso, ela cresceu e ainda vive. A partir daí, além das plantas abandonadas, também resgata objetos porque gosta de prolongar a vida das coisas. 

A Silvia disse que para ela as plantas têm vida e os objetos têm memória. É bem certo, sobretudo se os objetos são feitos de madeira, porque a madeira tem parte da memória da árvore que foi. Às vezes também fica a memória de quando se produziram, quem os fez e quem os utilizou. Se os objetos falassem, quantas estórias nos contariam?

Entre os dois artistas, juntaram várias plantas que sobreviveram e cujas mudas já tiveram mudas. Têm-nas distribuído pela família e amigos: cactos, violetas…. Assim, além da amizade, partilham as plantas que lhes dão alegria. E os amigos também partilham as suas.

Acabaram a conversa a rir e a dizer:  

“Promovemos a adoção total entre os amigos!!! Animas-te a resgatar?”

Esta é uma história real, vivida pelos protagonistas desde Março de 2020.

Olá, sou eu, a Frida-Monstera novamente!
Ouvi-os falar sobre uns sites e uma aplicação onde obtêm informações sobre as plantas:

Casa Azul. Museo Frida Kahlo

A Silvia recomendou visitar virtualmente a casa museu da Frida Khalo, também chamada Casa Azul, que é no México. No jardim há muitas plantas da minha espécie.
Casa-Museo Frida Kahlo

A Silvia recomendou visitar virtualmente a casa museu da Frida Khalo, também chamada Casa Azul, que é no México. No jardim há muitas plantas da minha espécie.
Casa-Museo Frida Kahlo

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Para saber qual o nome das espécies que encontra, ela usa o aplicativo
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Para saber qual o nome das espécies que encontra, ela usa o aplicativo
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Sugerem conhecer a visão de Jan Vankmajer, sobre a memória dos objetos (em espanhol)

Para saber mais sobre os sentidos das plantas

Mancuso, S. & Viola, A. (2016). Verde brilhante: a sensibilidade e a inteligência das plantas. Lisboa: Gradiva. 200 p.

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a colecionadora de sementes

A colecionadora de sementes

Cada semente é um manual de instruções para construir uma nova planta, seja uma pequena erva ou uma grande sequoia.

Olá, sou uma semente de abacate que germinou e cresceu. Há muitas sementes a germinar e a crescer, assim talvez perguntem: o que tem esta semente de especial?

Ora fui uma semente de coleção, a primeira das sementes que a colecionadora conseguiu fazer germinar e vou contar a história de como e porquê ela e eu nos conhecemos.

Tudo começou há cerca de um ano, quando a Margarida, que gosta muito de cozinhar, quis fazer uma horta e começou a procurar vídeos no youtube sobre como iniciar uma.

Ela viu muitos vídeos e acabou atraída por um, onde um rapaz mostrava como ajudar a germinar sementes de abacate.

Também gostou de outro, de uma mãe de família que vivia numa quinta e cultivava mais de 100 tipos diferentes de tomate. Os vídeos inspiraram-na a começar a guardar sementes dos frutos que comia, primeiro de tomate, depois de courgette, abóbora, abacate, entre outras. A verdade é que alguns meses depois,…

imagens © Margarida Monteiro

…a semente que eu fui germinou após uma paciente espera, e agora sou um pequeno abacateiro de lindas folhas grandes. A Margarida além de ter mais sementes a germinar, começou a colecioná-las e ouvi uma conversa onde contava o que a levou a isso:

“Comecei a olhar para as sementes de outra maneira depois de ver o documentário SEEDS; tantas vezes as desvalorizei no passado… mas passei a olhá-las como algo do qual a minha vida depende. Hoje já não olho para uma semente como se fosse lixo. 

Claro que o processo culinário começou a demorar mais tempo. Cada vez que corto os alimentos tenho de ter atenção às sementes: separá-las, lavá-las, secá-las… e dizer às outras pessoas para guardar sementes também. E no início as pessoas perguntavam: Porque estás a fazer isto? Estás a ser chata, deixa-me lá cortar isto! Para que é que queres isto? Porque é que isto te interessa? Qual é o valor disto?

Como eu tinha visto o documentário, quando era questionada, respondia: – Olha que “isto” é muito importante! É vida! Acho que foi um desbloqueador de conversa e que as pessoas entenderam. Para mim foi conseguir passar a mensagem, porque depois, elas próprias já o faziam. Tive vários casos em que eu chegava e já me tinham separado as sementes: Olha, tens ali as sementes das pimentas, tens as sementes dos tomates, queres as sementes de abacate? Perdi a conta de quantas sementes de abacate tenho.

Uma vez comprámos uma abóbora e quando a abrimos, metade das sementes da abóbora  já estavam germinadas e foram diretamente para a terra e as abóboras que depois tive, eram sementes já germinadas porque tinham começado o seu processo de germinação ainda dentro da abóbora. E ao final, eu tinha não sei quantas mil abóboras e não sei quantos mil tomates, ha!ha!ha!

O processo de germinação é um ato de amor e carinho. Cada semente tem as suas características, umas preferem ficar na água, outras diretamente na terra, cada tipo tem as suas particularidades. Houve muitos testes falhados e muitos que deram frutos que até já foram comidos, como os das sementes de tomates que iniciaram a coleção. É preciso ter condições ideais para guardá-las e para germiná-las. 

Procurei também outras coisas para fazer com as sementes, por exemplo, as de abacate podem ser usadas em cosmética. E comecei a guardar caixas, para guardar sementes. Ver o processo completo, ver como nós damos esse olhar à terra e como ela retribui, continua até hoje.

Colecionar sementes do que se come é fonte de conversa e partilha, além do que, o acompanhar o seu processo de germinação e de ver como cada planta cresce, gera um vínculo, é como ver crescer um pequeno bebé.

Esta inspiração chegou a mais pessoas que também decidiram começar a guardar e germinar sementes, geralmente as grandes, como as de abacate ou manga, porque as pequeninas exigem mais cuidados, são mais difíceis de se desenvolver num apartamento. Para mim já valeu a partilha.

As sementes ganharam vida para mim. É como se agora conseguisse ver que têm dentro a sua própria vida e a minha também e, sem elas não existe nada. Como elas, há muitas coisas para as quais não olhamos e damos por garantidas, acabando por menosprezar o que a natureza nos dá… As sementes não são algo garantido, é preciso cuidar, conservar.”

a semente feliz Estou feliz por ter sido uma semente escolhida pela Margarida.

E vocês já escolheram a vossa?

Esta é uma história real, vivida pela Margarida desde Fevereiro de 2020.

Sugestões para saber mais sobre as sementes de plantas comestíveis

Vídeo da germinação de sementes de abacate

Vídeo da família que cultiva 115 variedades de tomate

Vídeo da germinação de sementes de abacate

Vídeo da família que cultiva 115 variedades de tomate

Sobre sementes

https://www.sementesvivas.bio/pt/

https://grain.org/en/article/6619-animacao-upov-o-grande-roubo-das-sementes

Sobre hortas urbanas 

https://www.re-planta.pt/2012/10/01/agricultura-sustentavel-na-internet/

https://www.ervasfinas.com/

Sobre germinados

MIgardener Channel

Becoming gardener Channel

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